• 16 dezembro

    Infectologistas atualizam recomendações sobre a covid-19

    Veja as recomendações sobre a covid-19 elaboradas e atualizadas pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

    A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) atualizou, em 9/12/20, suas recomendações sobre a covid-19. Por tratar-se de uma doença nova, é esperado que mudanças e atualizações ocorram: a ciência é dinâmica e a cada dia se descobre novidades acerca do comportamento do Sars-CoV-2, o vírus causador da covid-19, e da própria doença.

    A SBI é uma das entidades médicas mais respeitadas, e conta com profissionais cujo trabalho é reconhecido no Brasil e no exterior.

    As recomendações foram divididas em tópicos.

    SINTOMAS MAIS FREQUENTES

    - Febre;

    - Tosse;

    - Dor de garganta;

    - Dor “tipo sinusite”;

    - Náuseas;

    - Perda de apetite;

    - Perda ou alteração do olfato e/ou do paladar;

    - Cansaço;

    - Dores musculares;

    - Dor torácica;

    - Falta de ar.

    Alguns pacientes têm sintomas gastrointestinais como náusea, “dor de estômago” ou diarreia.

    No atual momento da pandemia, todo paciente com sintomas gripais deve ficar imediatamente em isolamento respiratório (ver abaixo) e procurar atendimento médico presencial ou por teleconsulta.

    TESTES DIAGNÓSTICOS

    Pacientes sintomáticos com suspeita de covid-19 devem realizar preferencialmente o exame de RT-PCR, com material coletado da nasofaringe (nariz e garganta) com swab (espécie de cotonete comprido), idealmente na primeira semana de sintomas. Esse exame tem de 60% a 80% de sensibilidade (capacidade de um teste em identificar, dentre as pessoas com suspeita da doença, aquelas realmente doentes). Se o resultado for positivo para covid-19, confirma o diagnóstico, já que resultados falso-positivos são raros (a especificidade  – capacidade do mesmo teste ser negativo nos indivíduos que não apresentam a doença que está sendo investigada – do teste é de 99%).

    Se o resultado for negativo e ainda persistir a suspeita clínica, o paciente deve manter 10 dias de isolamento respiratório e considerar repetir o exame, já que o RT-PCR pode ser falso-negativo.

    Outro exame possível a ser realizado na primeira semana de sintomas é o teste de antígeno, que é mais barato, rápido e não precisa ser feito em laboratório. Porém, sua sensibilidade é inferior à do RT-PCR, principalmente nos pacientes assintomáticos e com carga viral baixa. Assim, esse exame negativo não exclui o diagnóstico da doença.

    Os testes sorológicos (exames de sangue) para covid-19, tanto os rápidos de farmácia quanto os de laboratórios, não são recomendados para o diagnóstico precoce da doença (infecção ativa).

    As classes de anticorpos IgA e IgM não têm praticamente nenhuma utilidade clínica; a detecção de anticorpos totais ou IgG indica infecção prévia pelo Sars-CoV-2 e são importantes em estudos epidemiológicos.

    EVOLUÇÃO DOS PACIENTES

    A maioria dos pacientes com covid-19, especialmente os com menos de 50 anos e sem comorbidades (doenças crônicas pré-existentes) evolui bem, sem complicações. Os principais fatores de risco para covid-19 grave são:

    - Ter 60 anos ou mais;

    - Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);

    - Doença cardiovascular (insuficiência cardíaca, doença coronariana, cardiomiopatia);

    - Diabetes tipo 2;

    - Obesidade (IMC de 30 ou mais);

    - Doença renal crônica;

    - Imunocomprometidos (receptores de transplantes de órgãos, pessoas que vivem com HIV e têm contagem de linfócitos T CD4+ baixa, indivíduos com câncer);

    - Anemia falciforme.

    Esses pacientes devem ser acompanhados com avaliação de sintomas, temperatura e oxigenação (com oxometria digital).

    Alguns pacientes ainda estão sendo estudados para inclui-los ou não nos grupos de risco para covid-19 grave. São eles:

    - Gestantes;

    - Asma moderada e grave;

    - Doenças cerebrovasculares;

    - Fibrose cística;

    - Hipertensão arterial;

    - Tabagismo;

    - Diabetes tipo 1;

    - Demência;

    - Doenças hepáticas;

    - Outros estados de imunosupressão.

    SOBRE O TRATAMENTO PRECOCE NOS PRIMEIROS DIAS DE SINTOMAS

    A SBI não recomenda tratamento farmacológico precoce para covid-19 com nenhum medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro) porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício. Além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a covid-19.

    A IMPORTÂNCIA DE DETECTAR HIPÓXIA, INCLUINDO HIPÓXIA SILENCIOSA

    Pacientes que evoluem com pneumonia grave, com falta de oxigênio no sangue e nos órgãos (hipóxia) necessitam de internação hospitalar. A maioria desses pacientes tem mais de 60 anos e/ou doenças crônicas como diabetes, insuficiência cardíaca, enfisema pulmonar, imunussupressão, insuficiência renal crônica e obesidade.

    É fundamental detectar o primeiro sinal de hipóxia por meio da oximetria digital (oxímetro de dedo), pois muitos pacientes têm hipóxia sem sentir falta de ar (hipóxia silenciosa).

    Pacientes com risco de covid-19 grave devem verificar a oximetria digital diariamente.

     

    A pneumonia com hipóxia  (oximetria digital com saturação de oxigênio menor que 95%) geralmente ocorre ao redor do 7º dia de sintomas (entre o 5º e o 9º dia) na maioria dos pacientes. Ao se detectar a pneumonia com hipóxia (em geral, quando o comprometimento pulmonar é igual ou superior a 50%) , o tratamento hospitalar com oxigenioterapia, dexametasona (corticoide) e heparina (anticoagulante) profilático fará com que a maioria dos pacientes evolua bem e sem a necessidade de ventilação mecânica (respirador) em UTI.

    ISOLAMENTO RESPIRATÓRIO

    Todos os pacientes com suspeita clínica de covid-19 e os com doença confirmada (exame RT-PCR de nasofaringe positivo) devem ficar 10 dias em isolamento respiratório familiar, isto é, devem ficar preferencialmente sozinhos no quarto, afastados de familiares e amigos.

    Pacientes com covid-19 grave, que são os que se internam em UTIs e/ou os imunossuprimidos poderão ter a duração do isolamento respiratório prolongado por até 20 dias, analisando-se cada caso isoladamente.

    Nenhum exame está indicado para alta do isolamento ou volta ao trabalho, nem RT-PCR nem sorologia. Deve-se contar 10 dias de isolamento desde que sem febre nas últimas 24 horas, a partir do primeiro dia de sintomas.

    CONTATANTES PRÓXIMOS

    Os pacientes que tiveram contato de alto risco com pacientes com covid-19, também chamados de contatantes próximos, que são as pessoas que tiveram proximidade com pacientes com suspeita ou com covid-19 confirmada sem máscaras, por 15 minutos ou mais e a uma distância menor de 1,8 metro também devem ficar em isolamento respiratório por 10 a 14 dias (período máximo de incubação). O médico deve avaliar o tipo de contato para verificar a necessidade de testes diagnóstico e acompanhamento.

    O período de incubação da covid-19, na maioria dos casos, é entre 2 e 5 dias, podendo chegar a 14 dias. Uma estratégia para os contatantes próximos que permanecem assintomáticos (sem sintomas) é realizar RT-PCR nasal colhido entre 6 e 8 dias depois do último contato. Se o resultado for positivo, o indivíduo deve ficar 10 dias em isolamento respiratório, contados a partir da data do exame.

    Se o contato do caso positivo apresentar qualquer sintoma suspeito de covid-19 nas duas semanas após o contato, deve colher RT-PCR nasal para Sars-CoV-2 e seguir o apresentado no item 4.

    PODE OCORRER REINFECÇÃO?

    A reinfecção ou segunda infecção parece ser incomum. A maioria das pessoas que teve infecção assintomática ou a doença covid-19 provavelmente estará imune por, pelo menos, 3 a 5 meses. Estudos em andamento e estudos futuros responderão por quanto tempo o paciente ficará imune com mais precisão.

    Mesmo as pessoas que tiveram covid-19 devem continuar praticando as medidas de prevenção citadas acima. Não há indicação de fazer sorologia (IgG ou anticorpos totais) em pacientes que tiveram covid-19 confirmado (PCR nasal para Sars-CoV-2 detectado), a não ser em pesquisas epidemiológicas.

    MEDIDAS DE PREVENÇÃO

    As seis “regras de ouro”da prevenção da covid-19 devem ser praticadas todo dia, o dia todo, e diminuem MUITO o risco de alguém ser infectado. São elas:

    - Usar máscara;

    - Manter o distanciamento físico de 1,5 metro;

    - Fazer a higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool gel a 70%;

    - Não participar de aglomerações, como reuniões, festas de confraternização em bares e restaurantes;

    - Manter ambientes ventilados/arejados;

    - Manter o paciente com sintomas de “resfriado ou gripe” em isolamento respiratório, pois ele pode ter covid-19.

    VACINAS CONTRA A COVID-19

    A mensagem sobre as vacinas é de otimismo. Várias delas estão em fase 3 de pesquisa clínica (a última para serem aprovadas) e algumas já receberão ou vão receber a autorização de uso emergencial na Europa e nos EUA nos próximos dias ou semanas. Alguns países vão iniciar a vacinação, começando pelos profissionais de saúde e residentes em lares para idosos, nesse início de dezembro/2020.

    No Brasil, elas poderão ser utilizadas somente após a aprovação da Anvisa. A vacinação no Brasil também dependerá da logística, que inclui transporte das vacinas adequadamente refrigeradas, conforme cada uma delas exige, bem como a compra e distribuição pelo Ministério da Saúde.

    Enfim, é fundamental que tenhamos vacinas eficazes e seguras no Brasil nos próximos meses.

    Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/coronavirus/infectologistas-atualizam-recomendacoes-sobre-a-covid-19/

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